quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Tenho estado melancólica ultimamente. A ponto de querer dormir a todo e qualquer momento livre ou reservado para fazer qualquer coisa que venho deixando pra depois. Tudo pra não ficar consciente, e ciente, da nuvem cinza que me cerca. De não precisar lembrar o que aconteceu ou está pra acontecer e deixar simplesmente que a imaginação e o cérebro trabalhem em meus sonhos e me levem para bem longe. É que dói. Dói, machuca, corrompe, consome. E da mesma forma que lamento por tudo isso, acabo aguentando e me mostrando mais forte, ou mais fraca, que imaginava. E o dia termina como sempre. Muito choro e angústia. Por tudo e por nada.
Um pedaço de mim eu perdi 
Devo tê-lo deixado por aí 
Nos caminhos que percorri
Incessavelmente eu procurei 
Nunca encontrei 
Nunca entendi  
Mas só agora eu sei 
Só me encontro em ti

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

It's all about you.

Faz um bom tempo... Um bom tempo que não sei como você tem passado, se está bem ou se está tão desnorteado quanto eu, um bom tempo que tudo que vem se expandindo dentro de mim é dor, que a cada dia temo que me esteja esquecendo rapidamente, que todas as vezes que eu me derramo em lágrimas é por você, que tudo que eu mais quero é tê-lo de volta, em minha vida e em meus braços, e eu não hesitaria nem um segundo se me quisesse de volta. É tudo sobre você.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Marla de Queiroz

Acordar ao seu lado, esse eterno amanhecer por dentro, um sol interno tão aceso, essa alegria gratuita. E existe algo em nós que é tão recíproco, cúmplice e intenso. Dos nossos olhares que dizem tanto sobre tudo, silenciosamente. Um movimento de corpo que é tão ao encontro o tempo todo. Da compreensão e paciência a que nos dedicamos diariamente. E o amor que permeia tanta poesia, e a poesia que se entrega inteira pras palavras que querem dizer do abraço. Seu corpo tão moldado ao meu, natureza líquida de água e jarro. Você me conduzindo à fonte de todas as coisas, lá onde o desejo se origina. E nada míngua com o passar do tempo e mesmo acreditando não ter mais espaço, cresce, flui, se imensa clareando o que era escuro e frio.Cada vez mais e mais eu preciso dizer do amor. Dessa ternura delicada. Cada vez mais o amor sendo a melhor experiência. Cada vez mais eu percebendo que se nada no mundo é definitivo, nossa história eu sei perene. Uma primavera inaugurada a cada dia. E mesmo que nada possa ser eterno, mesmo que o "pra sempre" não exista, eu sei que vou seguir te amando, pelo menos, pelos próximos 99 invernos.


(E se ainda eu não consigo explicar você pra mim, eu simplesmente aceito e agradeço)

And as things fell apart, nobody paid much attention.

O dia estava ensolarado e quente, as nuvens no céu andavam corriqueiras, querendo desaparecer e dar lugar á um céu límpido e claro. Assim como meu coração, eu estava ansiosa e não conseguia esperar sequer um minuto. Não sou boa em esperas. Corri pelo jardim de flores conservadas e bem cheirosas sentindo o vento ricochetear meus cabelos compridos a cada passo apressado. Minha primeira reação ao vê-lo foi esbanjar um sorriso desajeitado, não consigo esconder a felicidade por muito tempo. Ele devolveu o sorriso com mais empolgação, mais contentamento e graciosidade, como se me ver fosse uma dádiva. Nossos corpos, antes temerosos, pausadamente se tocaram num abraço apertado formando um só. Repousei minha cabeça em seu ombro firme e senti o mundo todo parar naquele momento. O único som que eu conseguia ouvir eram as batidas extremas de nossos peitos. Seus dedos macios acariciavam minha nuca com cuidado, fazendo formar uma gota de suor em minha testa. Estremeci. Sensações assim me eram desconhecidas. Ele estava com um sorriso caloroso no rosto, que desenhava uma fina expressão, suave, que mesmo sem poder ver, não me impedia de sentir. Meus olhos brilhavam a cada vez que encontravam com os seus. De minha boca se formava um sorriso cada vez que palavras eram sibiladas ao pé do meu ouvido. Seus braços se fechando em volta do meu corpo, me abraçando e assim mostrando proteção simples e puramente verdadeira. Nossos lábios se tocaram com receio por um momento e logo se tornou em mais puro e belo desejo. Desejo de ter um ao outro. Fechei meus olhos e senti seus lábios rosados nos meus, me fazendo afogar em paz momentânea. O encontro de nossas línguas, nossos corpos, nossas almas. Poderia ficar ali para sempre. Naquele dia, naquela cena, naquele momento. Tão caloroso, tão puro, tão sereno, tão real. Abri meus olhos á procura dos seus e tudo tinha desaparecido, então. Não passara de mais um de meus devaneios na espera que eu pudesse te reencontrar. Mesmo sentindo a paz de ter você apenas em sonhos, lágrimas se formaram em meu rosto choroso. E assim, entre lágrimas e murmúrios, adormeci.

domingo, 2 de setembro de 2012

Marla de Queiroz

"Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”. Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais. Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia."

Manuel Bandeira - Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Belo Café.

Abri meus olhos com o corpo já descansado. Sentia arrepiar minhas pernas descobertas e geladas. A brisa fria, já percorria todo o quarto, exterminando quaisquer traços de calor que um dia estiveram ali. Apalpei o lugar ao lado da minha cama grande e quente, mas só sentia o vazio. Levantei metade do corpo com vontade de não ter feito, pois queria dormir mais alguns milênios e esquecer que um dia eu tinha acordado. Ei, não! Isso é o que fazem: Dormem pra ignorar o “fiasco” do “fiasco” que é conhecido como vida. Eu não queria que fosse dessa maneira. Levantei, tonta, sonolenta e com o pé direito. Sim, eu percebi isso, por mais que supertições para mim não se passavam de super-futilidades. Escovei-me no criado mudo marrom escuro cheio de besteirinhas que eu abandonava ali para poupá-las do lixo, ao lado da cama, e vi um bilhete entreaberto feito numa folha amarela de anotações. Curiosidade. Peguei o pedaço de papel, o desdobrei e corri os olhos naquela letra corrida que dizia: “Você dorme como uma pedra. Não quis te acordar fui comprar café, estarei daqui a alguns minutos em casa. Amor J.” Em casa? Amor? Café? Eu havia passado uma noite com um cara e parecíamos estar casados há vinte longos anos. Devolvi o bilhete ao lugar de origem e dei de ombros. Andei até o banheiro arrastando as pernas e pensando se alguma vez alguém havia escrito algo do tipo para mim. Não, é claro. Minha última desilusão amorosa tinha sido a gota d’água. Ele nunca reparou se eu dormia como uma pedra, mas me tratava como uma. Sem significado. Nuca fez café pra mim, mas esperava que eu levantasse cedo e o servisse na cama. Nunca mencionou esta casa como sendo a dele, ou que teríamos uma casa clássica, grande, com cores vivas e um belo jardim pelo qual se ocupar. Por nunca ter tido algo similar em minha vida, acabaria abominando o quão clichê tudo aquilo era. Ou aparentava ser. Teoricamente, eu sempre quisera aquilo, mas nunca soube que precisava. Desliguei o chuveiro e me sequei, penteei meus cabelos de qualquer jeito, coloquei a primeira roupa que vi e deitei metade do meu corpo na cama, deixando meu pé no chão frio, ficando absorta em pensamentos vagos e lembranças inquietas. O silêncio era tanto que fui interrompida pelo barulho da fechadura da porta. Andei até ali e lá estava James, com seus grandes olhos brilhantes e seu cabelo despenteado sendo chicoteado pelo vento que entrava pela janela. Ele me olhou de cima abaixo. “Acordou há muito tempo? Não quis te incomodar mais cedo.” disse com certa delicadeza. ”Acordei agora pouco, durmo feito pedra.” ele sorriu parecendo feliz por eu ter acordado e eu devolvi o sorriso. Deixou o embrulho na bancada da cozinha e veio até mim num piscar de olhos. Suas mão envolveram firmemente minha cintura, roçando a outra em meus cabelos molhados e sua língua invadiu a minha boca, sem aviso prévio, com um de seus beijos adoçados. Senti meu corpo flutuar minha mente esvaziar e juro que pude ouvir meu coração palpitar coisas sem sentido como de costume. Oh! Borboletas! Intrometidas! As borboletas que residiam em meu estômago e que tinha prazer em aparecer nas partes mais embaraçosas, resolveram tirar licença. Desapareceram fazendo com que o beijo tivesse mais ardor. Eu me sentia confiante, em anos. Nossos lábios se chocaram provocando um barulho e um riso entre o beijo. Ofegante, abri meus olhos, já corando e o fitei. Nossos olhares se fixaram e dei um sorriso bobo. Ele me entreolhou sem saber o que dizer e então se dirigiu de volta a bancada onde havia deixado o embrulho com nossa refeição, não necessariamente a mais saborosa daquela fria manhã. Belo café.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Tenho estado melancólica ultimamente. A ponto de querer dormir a todo e qualquer momento livre ou reservado para fazer qualquer coisa que venho deixando pra depois. Tudo pra não ficar consciente, e ciente, da nuvem cinza que me cerca. De não precisar lembrar o que aconteceu ou está pra acontecer e deixar simplesmente que a imaginação e o cérebro trabalhem em meus sonhos e me levem para bem longe. É que dói. Dói, machuca, corrompe, consome. E da mesma forma que lamento por tudo isso, acabo aguentando e me mostrando mais forte, ou mais fraca, que imaginava. E o dia termina como sempre. Muito choro e angústia. Por tudo e por nada.
Um pedaço de mim eu perdi 
Devo tê-lo deixado por aí 
Nos caminhos que percorri
Incessavelmente eu procurei 
Nunca encontrei 
Nunca entendi  
Mas só agora eu sei 
Só me encontro em ti

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

It's all about you.

Faz um bom tempo... Um bom tempo que não sei como você tem passado, se está bem ou se está tão desnorteado quanto eu, um bom tempo que tudo que vem se expandindo dentro de mim é dor, que a cada dia temo que me esteja esquecendo rapidamente, que todas as vezes que eu me derramo em lágrimas é por você, que tudo que eu mais quero é tê-lo de volta, em minha vida e em meus braços, e eu não hesitaria nem um segundo se me quisesse de volta. É tudo sobre você.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Marla de Queiroz

Acordar ao seu lado, esse eterno amanhecer por dentro, um sol interno tão aceso, essa alegria gratuita. E existe algo em nós que é tão recíproco, cúmplice e intenso. Dos nossos olhares que dizem tanto sobre tudo, silenciosamente. Um movimento de corpo que é tão ao encontro o tempo todo. Da compreensão e paciência a que nos dedicamos diariamente. E o amor que permeia tanta poesia, e a poesia que se entrega inteira pras palavras que querem dizer do abraço. Seu corpo tão moldado ao meu, natureza líquida de água e jarro. Você me conduzindo à fonte de todas as coisas, lá onde o desejo se origina. E nada míngua com o passar do tempo e mesmo acreditando não ter mais espaço, cresce, flui, se imensa clareando o que era escuro e frio.Cada vez mais e mais eu preciso dizer do amor. Dessa ternura delicada. Cada vez mais o amor sendo a melhor experiência. Cada vez mais eu percebendo que se nada no mundo é definitivo, nossa história eu sei perene. Uma primavera inaugurada a cada dia. E mesmo que nada possa ser eterno, mesmo que o "pra sempre" não exista, eu sei que vou seguir te amando, pelo menos, pelos próximos 99 invernos.


(E se ainda eu não consigo explicar você pra mim, eu simplesmente aceito e agradeço)

And as things fell apart, nobody paid much attention.

O dia estava ensolarado e quente, as nuvens no céu andavam corriqueiras, querendo desaparecer e dar lugar á um céu límpido e claro. Assim como meu coração, eu estava ansiosa e não conseguia esperar sequer um minuto. Não sou boa em esperas. Corri pelo jardim de flores conservadas e bem cheirosas sentindo o vento ricochetear meus cabelos compridos a cada passo apressado. Minha primeira reação ao vê-lo foi esbanjar um sorriso desajeitado, não consigo esconder a felicidade por muito tempo. Ele devolveu o sorriso com mais empolgação, mais contentamento e graciosidade, como se me ver fosse uma dádiva. Nossos corpos, antes temerosos, pausadamente se tocaram num abraço apertado formando um só. Repousei minha cabeça em seu ombro firme e senti o mundo todo parar naquele momento. O único som que eu conseguia ouvir eram as batidas extremas de nossos peitos. Seus dedos macios acariciavam minha nuca com cuidado, fazendo formar uma gota de suor em minha testa. Estremeci. Sensações assim me eram desconhecidas. Ele estava com um sorriso caloroso no rosto, que desenhava uma fina expressão, suave, que mesmo sem poder ver, não me impedia de sentir. Meus olhos brilhavam a cada vez que encontravam com os seus. De minha boca se formava um sorriso cada vez que palavras eram sibiladas ao pé do meu ouvido. Seus braços se fechando em volta do meu corpo, me abraçando e assim mostrando proteção simples e puramente verdadeira. Nossos lábios se tocaram com receio por um momento e logo se tornou em mais puro e belo desejo. Desejo de ter um ao outro. Fechei meus olhos e senti seus lábios rosados nos meus, me fazendo afogar em paz momentânea. O encontro de nossas línguas, nossos corpos, nossas almas. Poderia ficar ali para sempre. Naquele dia, naquela cena, naquele momento. Tão caloroso, tão puro, tão sereno, tão real. Abri meus olhos á procura dos seus e tudo tinha desaparecido, então. Não passara de mais um de meus devaneios na espera que eu pudesse te reencontrar. Mesmo sentindo a paz de ter você apenas em sonhos, lágrimas se formaram em meu rosto choroso. E assim, entre lágrimas e murmúrios, adormeci.

domingo, 2 de setembro de 2012

Marla de Queiroz

"Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”. Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais. Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia."

Manuel Bandeira - Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Belo Café.

Abri meus olhos com o corpo já descansado. Sentia arrepiar minhas pernas descobertas e geladas. A brisa fria, já percorria todo o quarto, exterminando quaisquer traços de calor que um dia estiveram ali. Apalpei o lugar ao lado da minha cama grande e quente, mas só sentia o vazio. Levantei metade do corpo com vontade de não ter feito, pois queria dormir mais alguns milênios e esquecer que um dia eu tinha acordado. Ei, não! Isso é o que fazem: Dormem pra ignorar o “fiasco” do “fiasco” que é conhecido como vida. Eu não queria que fosse dessa maneira. Levantei, tonta, sonolenta e com o pé direito. Sim, eu percebi isso, por mais que supertições para mim não se passavam de super-futilidades. Escovei-me no criado mudo marrom escuro cheio de besteirinhas que eu abandonava ali para poupá-las do lixo, ao lado da cama, e vi um bilhete entreaberto feito numa folha amarela de anotações. Curiosidade. Peguei o pedaço de papel, o desdobrei e corri os olhos naquela letra corrida que dizia: “Você dorme como uma pedra. Não quis te acordar fui comprar café, estarei daqui a alguns minutos em casa. Amor J.” Em casa? Amor? Café? Eu havia passado uma noite com um cara e parecíamos estar casados há vinte longos anos. Devolvi o bilhete ao lugar de origem e dei de ombros. Andei até o banheiro arrastando as pernas e pensando se alguma vez alguém havia escrito algo do tipo para mim. Não, é claro. Minha última desilusão amorosa tinha sido a gota d’água. Ele nunca reparou se eu dormia como uma pedra, mas me tratava como uma. Sem significado. Nuca fez café pra mim, mas esperava que eu levantasse cedo e o servisse na cama. Nunca mencionou esta casa como sendo a dele, ou que teríamos uma casa clássica, grande, com cores vivas e um belo jardim pelo qual se ocupar. Por nunca ter tido algo similar em minha vida, acabaria abominando o quão clichê tudo aquilo era. Ou aparentava ser. Teoricamente, eu sempre quisera aquilo, mas nunca soube que precisava. Desliguei o chuveiro e me sequei, penteei meus cabelos de qualquer jeito, coloquei a primeira roupa que vi e deitei metade do meu corpo na cama, deixando meu pé no chão frio, ficando absorta em pensamentos vagos e lembranças inquietas. O silêncio era tanto que fui interrompida pelo barulho da fechadura da porta. Andei até ali e lá estava James, com seus grandes olhos brilhantes e seu cabelo despenteado sendo chicoteado pelo vento que entrava pela janela. Ele me olhou de cima abaixo. “Acordou há muito tempo? Não quis te incomodar mais cedo.” disse com certa delicadeza. ”Acordei agora pouco, durmo feito pedra.” ele sorriu parecendo feliz por eu ter acordado e eu devolvi o sorriso. Deixou o embrulho na bancada da cozinha e veio até mim num piscar de olhos. Suas mão envolveram firmemente minha cintura, roçando a outra em meus cabelos molhados e sua língua invadiu a minha boca, sem aviso prévio, com um de seus beijos adoçados. Senti meu corpo flutuar minha mente esvaziar e juro que pude ouvir meu coração palpitar coisas sem sentido como de costume. Oh! Borboletas! Intrometidas! As borboletas que residiam em meu estômago e que tinha prazer em aparecer nas partes mais embaraçosas, resolveram tirar licença. Desapareceram fazendo com que o beijo tivesse mais ardor. Eu me sentia confiante, em anos. Nossos lábios se chocaram provocando um barulho e um riso entre o beijo. Ofegante, abri meus olhos, já corando e o fitei. Nossos olhares se fixaram e dei um sorriso bobo. Ele me entreolhou sem saber o que dizer e então se dirigiu de volta a bancada onde havia deixado o embrulho com nossa refeição, não necessariamente a mais saborosa daquela fria manhã. Belo café.