sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Marla de Queiroz

Acordar ao seu lado, esse eterno amanhecer por dentro, um sol interno tão aceso, essa alegria gratuita. E existe algo em nós que é tão recíproco, cúmplice e intenso. Dos nossos olhares que dizem tanto sobre tudo, silenciosamente. Um movimento de corpo que é tão ao encontro o tempo todo. Da compreensão e paciência a que nos dedicamos diariamente. E o amor que permeia tanta poesia, e a poesia que se entrega inteira pras palavras que querem dizer do abraço. Seu corpo tão moldado ao meu, natureza líquida de água e jarro. Você me conduzindo à fonte de todas as coisas, lá onde o desejo se origina. E nada míngua com o passar do tempo e mesmo acreditando não ter mais espaço, cresce, flui, se imensa clareando o que era escuro e frio.Cada vez mais e mais eu preciso dizer do amor. Dessa ternura delicada. Cada vez mais o amor sendo a melhor experiência. Cada vez mais eu percebendo que se nada no mundo é definitivo, nossa história eu sei perene. Uma primavera inaugurada a cada dia. E mesmo que nada possa ser eterno, mesmo que o "pra sempre" não exista, eu sei que vou seguir te amando, pelo menos, pelos próximos 99 invernos.


(E se ainda eu não consigo explicar você pra mim, eu simplesmente aceito e agradeço)

And as things fell apart, nobody paid much attention.

O dia estava ensolarado e quente, as nuvens no céu andavam corriqueiras, querendo desaparecer e dar lugar á um céu límpido e claro. Assim como meu coração, eu estava ansiosa e não conseguia esperar sequer um minuto. Não sou boa em esperas. Corri pelo jardim de flores conservadas e bem cheirosas sentindo o vento ricochetear meus cabelos compridos a cada passo apressado. Minha primeira reação ao vê-lo foi esbanjar um sorriso desajeitado, não consigo esconder a felicidade por muito tempo. Ele devolveu o sorriso com mais empolgação, mais contentamento e graciosidade, como se me ver fosse uma dádiva. Nossos corpos, antes temerosos, pausadamente se tocaram num abraço apertado formando um só. Repousei minha cabeça em seu ombro firme e senti o mundo todo parar naquele momento. O único som que eu conseguia ouvir eram as batidas extremas de nossos peitos. Seus dedos macios acariciavam minha nuca com cuidado, fazendo formar uma gota de suor em minha testa. Estremeci. Sensações assim me eram desconhecidas. Ele estava com um sorriso caloroso no rosto, que desenhava uma fina expressão, suave, que mesmo sem poder ver, não me impedia de sentir. Meus olhos brilhavam a cada vez que encontravam com os seus. De minha boca se formava um sorriso cada vez que palavras eram sibiladas ao pé do meu ouvido. Seus braços se fechando em volta do meu corpo, me abraçando e assim mostrando proteção simples e puramente verdadeira. Nossos lábios se tocaram com receio por um momento e logo se tornou em mais puro e belo desejo. Desejo de ter um ao outro. Fechei meus olhos e senti seus lábios rosados nos meus, me fazendo afogar em paz momentânea. O encontro de nossas línguas, nossos corpos, nossas almas. Poderia ficar ali para sempre. Naquele dia, naquela cena, naquele momento. Tão caloroso, tão puro, tão sereno, tão real. Abri meus olhos á procura dos seus e tudo tinha desaparecido, então. Não passara de mais um de meus devaneios na espera que eu pudesse te reencontrar. Mesmo sentindo a paz de ter você apenas em sonhos, lágrimas se formaram em meu rosto choroso. E assim, entre lágrimas e murmúrios, adormeci.

domingo, 2 de setembro de 2012

Marla de Queiroz

"Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”. Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais. Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia."

Manuel Bandeira - Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Marla de Queiroz

Acordar ao seu lado, esse eterno amanhecer por dentro, um sol interno tão aceso, essa alegria gratuita. E existe algo em nós que é tão recíproco, cúmplice e intenso. Dos nossos olhares que dizem tanto sobre tudo, silenciosamente. Um movimento de corpo que é tão ao encontro o tempo todo. Da compreensão e paciência a que nos dedicamos diariamente. E o amor que permeia tanta poesia, e a poesia que se entrega inteira pras palavras que querem dizer do abraço. Seu corpo tão moldado ao meu, natureza líquida de água e jarro. Você me conduzindo à fonte de todas as coisas, lá onde o desejo se origina. E nada míngua com o passar do tempo e mesmo acreditando não ter mais espaço, cresce, flui, se imensa clareando o que era escuro e frio.Cada vez mais e mais eu preciso dizer do amor. Dessa ternura delicada. Cada vez mais o amor sendo a melhor experiência. Cada vez mais eu percebendo que se nada no mundo é definitivo, nossa história eu sei perene. Uma primavera inaugurada a cada dia. E mesmo que nada possa ser eterno, mesmo que o "pra sempre" não exista, eu sei que vou seguir te amando, pelo menos, pelos próximos 99 invernos.


(E se ainda eu não consigo explicar você pra mim, eu simplesmente aceito e agradeço)

And as things fell apart, nobody paid much attention.

O dia estava ensolarado e quente, as nuvens no céu andavam corriqueiras, querendo desaparecer e dar lugar á um céu límpido e claro. Assim como meu coração, eu estava ansiosa e não conseguia esperar sequer um minuto. Não sou boa em esperas. Corri pelo jardim de flores conservadas e bem cheirosas sentindo o vento ricochetear meus cabelos compridos a cada passo apressado. Minha primeira reação ao vê-lo foi esbanjar um sorriso desajeitado, não consigo esconder a felicidade por muito tempo. Ele devolveu o sorriso com mais empolgação, mais contentamento e graciosidade, como se me ver fosse uma dádiva. Nossos corpos, antes temerosos, pausadamente se tocaram num abraço apertado formando um só. Repousei minha cabeça em seu ombro firme e senti o mundo todo parar naquele momento. O único som que eu conseguia ouvir eram as batidas extremas de nossos peitos. Seus dedos macios acariciavam minha nuca com cuidado, fazendo formar uma gota de suor em minha testa. Estremeci. Sensações assim me eram desconhecidas. Ele estava com um sorriso caloroso no rosto, que desenhava uma fina expressão, suave, que mesmo sem poder ver, não me impedia de sentir. Meus olhos brilhavam a cada vez que encontravam com os seus. De minha boca se formava um sorriso cada vez que palavras eram sibiladas ao pé do meu ouvido. Seus braços se fechando em volta do meu corpo, me abraçando e assim mostrando proteção simples e puramente verdadeira. Nossos lábios se tocaram com receio por um momento e logo se tornou em mais puro e belo desejo. Desejo de ter um ao outro. Fechei meus olhos e senti seus lábios rosados nos meus, me fazendo afogar em paz momentânea. O encontro de nossas línguas, nossos corpos, nossas almas. Poderia ficar ali para sempre. Naquele dia, naquela cena, naquele momento. Tão caloroso, tão puro, tão sereno, tão real. Abri meus olhos á procura dos seus e tudo tinha desaparecido, então. Não passara de mais um de meus devaneios na espera que eu pudesse te reencontrar. Mesmo sentindo a paz de ter você apenas em sonhos, lágrimas se formaram em meu rosto choroso. E assim, entre lágrimas e murmúrios, adormeci.

domingo, 2 de setembro de 2012

Marla de Queiroz

"Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”. Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais. Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia."

Manuel Bandeira - Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
- Eu faço versos como quem morre.