sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Belo Café.

Abri meus olhos com o corpo já descansado. Sentia arrepiar minhas pernas descobertas e geladas. A brisa fria, já percorria todo o quarto, exterminando quaisquer traços de calor que um dia estiveram ali. Apalpei o lugar ao lado da minha cama grande e quente, mas só sentia o vazio. Levantei metade do corpo com vontade de não ter feito, pois queria dormir mais alguns milênios e esquecer que um dia eu tinha acordado. Ei, não! Isso é o que fazem: Dormem pra ignorar o “fiasco” do “fiasco” que é conhecido como vida. Eu não queria que fosse dessa maneira. Levantei, tonta, sonolenta e com o pé direito. Sim, eu percebi isso, por mais que supertições para mim não se passavam de super-futilidades. Escovei-me no criado mudo marrom escuro cheio de besteirinhas que eu abandonava ali para poupá-las do lixo, ao lado da cama, e vi um bilhete entreaberto feito numa folha amarela de anotações. Curiosidade. Peguei o pedaço de papel, o desdobrei e corri os olhos naquela letra corrida que dizia: “Você dorme como uma pedra. Não quis te acordar fui comprar café, estarei daqui a alguns minutos em casa. Amor J.” Em casa? Amor? Café? Eu havia passado uma noite com um cara e parecíamos estar casados há vinte longos anos. Devolvi o bilhete ao lugar de origem e dei de ombros. Andei até o banheiro arrastando as pernas e pensando se alguma vez alguém havia escrito algo do tipo para mim. Não, é claro. Minha última desilusão amorosa tinha sido a gota d’água. Ele nunca reparou se eu dormia como uma pedra, mas me tratava como uma. Sem significado. Nuca fez café pra mim, mas esperava que eu levantasse cedo e o servisse na cama. Nunca mencionou esta casa como sendo a dele, ou que teríamos uma casa clássica, grande, com cores vivas e um belo jardim pelo qual se ocupar. Por nunca ter tido algo similar em minha vida, acabaria abominando o quão clichê tudo aquilo era. Ou aparentava ser. Teoricamente, eu sempre quisera aquilo, mas nunca soube que precisava. Desliguei o chuveiro e me sequei, penteei meus cabelos de qualquer jeito, coloquei a primeira roupa que vi e deitei metade do meu corpo na cama, deixando meu pé no chão frio, ficando absorta em pensamentos vagos e lembranças inquietas. O silêncio era tanto que fui interrompida pelo barulho da fechadura da porta. Andei até ali e lá estava James, com seus grandes olhos brilhantes e seu cabelo despenteado sendo chicoteado pelo vento que entrava pela janela. Ele me olhou de cima abaixo. “Acordou há muito tempo? Não quis te incomodar mais cedo.” disse com certa delicadeza. ”Acordei agora pouco, durmo feito pedra.” ele sorriu parecendo feliz por eu ter acordado e eu devolvi o sorriso. Deixou o embrulho na bancada da cozinha e veio até mim num piscar de olhos. Suas mão envolveram firmemente minha cintura, roçando a outra em meus cabelos molhados e sua língua invadiu a minha boca, sem aviso prévio, com um de seus beijos adoçados. Senti meu corpo flutuar minha mente esvaziar e juro que pude ouvir meu coração palpitar coisas sem sentido como de costume. Oh! Borboletas! Intrometidas! As borboletas que residiam em meu estômago e que tinha prazer em aparecer nas partes mais embaraçosas, resolveram tirar licença. Desapareceram fazendo com que o beijo tivesse mais ardor. Eu me sentia confiante, em anos. Nossos lábios se chocaram provocando um barulho e um riso entre o beijo. Ofegante, abri meus olhos, já corando e o fitei. Nossos olhares se fixaram e dei um sorriso bobo. Ele me entreolhou sem saber o que dizer e então se dirigiu de volta a bancada onde havia deixado o embrulho com nossa refeição, não necessariamente a mais saborosa daquela fria manhã. Belo café.

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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Belo Café.

Abri meus olhos com o corpo já descansado. Sentia arrepiar minhas pernas descobertas e geladas. A brisa fria, já percorria todo o quarto, exterminando quaisquer traços de calor que um dia estiveram ali. Apalpei o lugar ao lado da minha cama grande e quente, mas só sentia o vazio. Levantei metade do corpo com vontade de não ter feito, pois queria dormir mais alguns milênios e esquecer que um dia eu tinha acordado. Ei, não! Isso é o que fazem: Dormem pra ignorar o “fiasco” do “fiasco” que é conhecido como vida. Eu não queria que fosse dessa maneira. Levantei, tonta, sonolenta e com o pé direito. Sim, eu percebi isso, por mais que supertições para mim não se passavam de super-futilidades. Escovei-me no criado mudo marrom escuro cheio de besteirinhas que eu abandonava ali para poupá-las do lixo, ao lado da cama, e vi um bilhete entreaberto feito numa folha amarela de anotações. Curiosidade. Peguei o pedaço de papel, o desdobrei e corri os olhos naquela letra corrida que dizia: “Você dorme como uma pedra. Não quis te acordar fui comprar café, estarei daqui a alguns minutos em casa. Amor J.” Em casa? Amor? Café? Eu havia passado uma noite com um cara e parecíamos estar casados há vinte longos anos. Devolvi o bilhete ao lugar de origem e dei de ombros. Andei até o banheiro arrastando as pernas e pensando se alguma vez alguém havia escrito algo do tipo para mim. Não, é claro. Minha última desilusão amorosa tinha sido a gota d’água. Ele nunca reparou se eu dormia como uma pedra, mas me tratava como uma. Sem significado. Nuca fez café pra mim, mas esperava que eu levantasse cedo e o servisse na cama. Nunca mencionou esta casa como sendo a dele, ou que teríamos uma casa clássica, grande, com cores vivas e um belo jardim pelo qual se ocupar. Por nunca ter tido algo similar em minha vida, acabaria abominando o quão clichê tudo aquilo era. Ou aparentava ser. Teoricamente, eu sempre quisera aquilo, mas nunca soube que precisava. Desliguei o chuveiro e me sequei, penteei meus cabelos de qualquer jeito, coloquei a primeira roupa que vi e deitei metade do meu corpo na cama, deixando meu pé no chão frio, ficando absorta em pensamentos vagos e lembranças inquietas. O silêncio era tanto que fui interrompida pelo barulho da fechadura da porta. Andei até ali e lá estava James, com seus grandes olhos brilhantes e seu cabelo despenteado sendo chicoteado pelo vento que entrava pela janela. Ele me olhou de cima abaixo. “Acordou há muito tempo? Não quis te incomodar mais cedo.” disse com certa delicadeza. ”Acordei agora pouco, durmo feito pedra.” ele sorriu parecendo feliz por eu ter acordado e eu devolvi o sorriso. Deixou o embrulho na bancada da cozinha e veio até mim num piscar de olhos. Suas mão envolveram firmemente minha cintura, roçando a outra em meus cabelos molhados e sua língua invadiu a minha boca, sem aviso prévio, com um de seus beijos adoçados. Senti meu corpo flutuar minha mente esvaziar e juro que pude ouvir meu coração palpitar coisas sem sentido como de costume. Oh! Borboletas! Intrometidas! As borboletas que residiam em meu estômago e que tinha prazer em aparecer nas partes mais embaraçosas, resolveram tirar licença. Desapareceram fazendo com que o beijo tivesse mais ardor. Eu me sentia confiante, em anos. Nossos lábios se chocaram provocando um barulho e um riso entre o beijo. Ofegante, abri meus olhos, já corando e o fitei. Nossos olhares se fixaram e dei um sorriso bobo. Ele me entreolhou sem saber o que dizer e então se dirigiu de volta a bancada onde havia deixado o embrulho com nossa refeição, não necessariamente a mais saborosa daquela fria manhã. Belo café.

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